Arles

Meros devaneios tolos...

Fomos tomados pro um senso de urgência diante da popularização das IAs.

Por outro lado, agora virou moda todo mundo falar mal, o que, por sua vez, alimenta o ciclo da mediação algorítmica.

Neste cenário é difícil ter certeza de algo. A predição passa a ser algo mais difícil quando nos deparemos com variáveis tão voláteis.

Mas é possível saber o que não continuará da mesma forma. Já fomos impactados em muitos de nossos círculo, e isto é um fato.

Vamos adotar uma perspectiva histórica: a autoria já teve muitas roupas até tomar a forma da individualista que bebe no Iluminismo. Pra mim, esta será a primeira a mudar.

É importante também perceber que quem não se aprofundar em IA será levado pela avalanche. Neste sentido, a simples rejeição me parece um erro crasso.

É possível mudar a IA, coisa construída sob o capitalismo? Não sei, mas prefiro me firmar no propósito de que não teremos chances sem tentar.

Por fim, sobreviventes ou não, é muito salutar entender o mínimo da história e das aplicações da Inteligência Artificial. Ela não se resume ao hype criado por marketing.

Não sou bom nisso, mas vou tentar explicar:

Redes sociais só funcionam para disseminação de ideias e até mesmo do ponto de vista mercadológico se você pagar.

Os algoritmos implementados e sofisticados (principalmente a partir de 2013) pelas principais plataformas “cercaram os campos” não só para a criatividade nas redes, mas para a livre circulação de ideias.

É ilusão pensar que nas redes sociais digitais há livre circulação de ideias e que todos têm os mesmos instrumentos para disseminá-las, em igualdade. Essa ideia de redes sociais como território livre e igualitário tem que ser inserido antes da mediação algorítmica.

Os intermediários que antes eram os grandes meios de comunicação hoje são as empresas de redes sociais e seus algoritmos. Como no Capitalismo quem ganha é quem faz a intermediação, não é de se admirar que essas empresas sejam hoje as maiores do mercado.

Essa questão da mediação e da circulação de ideias submetidas aos ditames algorítmicos dessas empresas e o favorecimento do poder econômico do “quem tem mais, chega a mais gente” foi agravado no Brasil do ponto de vista eleitoral quando se colocou a proibição de impulsionamento pago fora das plataformas comerciais.

Isso, implementado devido ao forte lobby das plataformas, foi decisivo para o cenário que temos hoje, onde se têm a ilusão que somos livres para falar, mas não se vê com tanta clareza que as barreiras levantadas dificultam ainda mais, num quadro de abundância informativa, as chances de sermos ouvidos.

Há que se atentar para que, no cenário político, submeter a igualdade ao poder econômico desequilibra o jogo. O que deveria ser feito era a proibição total de impulsionamentos pagos, dentro ou fora das plataformas, para que se tornasse mais difícil – mas não impossível – o desequilíbrio informativo baseado no poderio econômico.

Quem aposta hoje nas redes sociais digitais como canal único para a disseminação de ideias está apostando errado. Existem, outrossim, atalhos por onde os algoritmos não alcançam ou alcançam de forma diversa aos das redes sociais stricto sensu. É o caso da dinâmica das redes opacas ou mensageiros instantâneos, que têm outra lógica na mediação, pelo menos nesse quadrante histórico.

Mas isso é papo para mais um textão.

Todes sabemos da importância do Whatsapp nas eleições 2018 para o sucesso da comunicação em redes do bolsonarismo.

O processo de uso do Whatsapp para concentrar e articular redes se funda na questão de que ali são estabelecidas conexões de confiança-cumplicidade muito fortes, chagando a Plataforma a ser citada por 79% dos entrevistados quando perguntados por onde se informam na última pesquisa DataSenado.

Agora imaginem este processo acontecendo no Telegram. A Plataforma dos irmãos Durov é muito mais dinâmica que o Whatsapp, tendo bots e uma API mais aberta, onde é possível criar vários níveis de automação.

Além disso, ao contrário das plataformas ocidentais, os Durov geralmente não respondem tão cordialmente às solicitações de limitação à Plataforma como o Facebook, por exemplo.

Aqui fica o alerta já para essas próximas eleições para que se aumente a observação sobre o Telegram. Talvez ainda não seja dessa vez o uso massivo da Plataforma para a ação política no Brasil, mas será sim já um importante instrumento de mobilização de redes.

Publicado originalmente em 13/01/2020

Tá vendo esse gráfico seu moço?

Pois é, aí estão as buscas pelo termo “mastodon” no Google este ano.

Tá vendo aquele pico ali no final?

É o aumento repentino causado, entre outras coisas, por uma forte migração de brasileiros para a plataforma Mastodon, que é escrita sobre o protocolo ActivityPub, e que compõe o Fediverso.

Brasileiros saíram do Twitter pois a Plataforma comercial está infestada de fascistas, e os donos da plataforma se recusam a defenestrá-los.

O Mastodon é uma promessa, com sua moderação também distribuída, de dias mais calmos para quem não quer conviver com o fascismo.

Mas não importa muito o tamanho e se a migração vai fazer com que a Plataforma livre cresça e se desenvolva continuamente entre/para os cidadãos conectados brasileiros.

Só de as pessoas estarem discutindo temas como montagem de servidores próprios, moderação de comunidades públicas, códigos livres, mediação algorítmica comercial, Capitalismo de Vigilância... já é um grande avanço.